Desesperado um dia
sussurrei declarações
No ouvido de um furacão.
Disse-lhe tudo que queria dizer-te.
Expliquei-lhe o que não pude explicar-te.
Confessei-lhe coisas que nem imaginas.
Dei-lhe uma missão e em seguida seu endereço.
Encarreguei justamente o vento destruidor
Para ser o mensageiro do meu apreço.
Pela cegueira que acomete os desesperados
Pus a natureza em um inútil impasse:
Nela, que só caminha para frente,
Depositei o meu desejo de que o passado regressasse.
Palavras ditas em turbulências parecem ter menos valor,
E não é preciso previsão meteorológica para saber
O que sobrou das palavras que falei no ouvido do furacão.
Maldita tempestade enganadora.
Como um carteiro levou minhas palavras.
Como uma oração levou minha fé.
Como um traidor levou-me às lagrimas.
Só me traíste por que deixei que me traísse.
Manter o orgulho pode ser um mergulho irracional.
Traído por mim.
Subtraído de ti.
Na subtração de si
por si mesmo
não existem resultados positivos.
Maldita natureza inescapável.
Onipotente e onisciente furacão.
Ouviste tudo que lhe disse.
Fizeste com minhas palavras um jogo
Cujas sujas regras fazem guerras.
Desmontastes os sentidos com seus ventos.
Quando do “Me perdoe" e do "Não me esqueça"
Invertestes tanto forma como os sentimentos
Declarando que“A culpa é sua não se esqueça”.
E do meu “eu te amo”,
Meu sincero e desesperado
Arrependido e apressado
tantas vezes represado “eu te amo”
Soprastes fora o amor.
E como o que sobra
não faz sombra
Mas nela mora,
Sobra “eu”solitário na escuridão.
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